quinta-feira, 7 de outubro de 2010
GLIFOSATO: SITE CIENTIFICO GLOBAL RESEARCH PUBLICA PESQUISA DE ARGENTINO ANDRES CARRASCO (ver postagem dia 4-09)
Study Shows Monsanto Roundup Herbicide Link to Birth Defects
by F. William Engdahl
Global Research, September 30, 2010
engdahl.oilgeopolitics.net
A major new scientific study has confirmed growing conviction that the world’s most widely used chemical herbicide, Monsanto Corporation’s Roundup is toxic and a danger to human as well as animal organisms. The latest scientific research carried out by a multinational scientific team headed by Professor Andrés Carrasco, head of the Laboratory of Molecular Embryology at the University of Buenos Aires Medical School and member of Argentina’s National Council of Scientific and Technical Research, presents alarming demonstration that Monsanto and the GMO agribusiness industry have systematically lied about the safety of their Roundup. Roundup in far lower concentrations than used in agriculture is linked to birth defects. The health implications are huge. All major GMO crops on the market today are genetically manipulated to “tolerate” the herbicide Roundup.
Glyphosate was patented by Monsanto in the 1970’s well before GMO was commercialized, as a so-called broad-spectrum weed killer. It is typically sprayed and absorbed through the leaves, or used as a forestry herbicide. It was initially patented and sold by Monsanto under the trade name Roundup, which also contains non-disclosed added chemicals the company refuses to divulge for “trade secret” reasons. As of 2005, 87% of all US soybean fields were planted with glyphosate-resistant varieties of GMO soybeans and sprayed with Roundup.
Because the seeds of Monsanto Roundup Ready GMO soybeans or other crops have been manipulated solely to be “resistant” to Roundup herbicide, while all other plant life in the field is killed by Roundup, farmers using Roundup Ready seeds must also purchase Roundup herbicide, making a captive market for both seed and chemicals.
The problem with this cozy arrangement, aside from the fact that Roundup-resistant “super-weeds” are emerging as a new biological catastrophe (see Katastrophale Folgen von GVO-Pflanzen in den USA – eine Lektion für die EU), is that Glyphosate has now been demonstrated to be linked to birth defects as one of the most highly toxic substances in agriculture. The US Government’s Environmental Protection Agency (EPA), nonetheless continues to regard Roundup as “relatively low in toxicity, and without carcinogenic or teratogenic effects.” In the United States the US Government notoriously relies on test data from Monsanto and the agribusiness industry to make safety rulings, under the 1992 doctrine of Substantial Equivalence which asserts that GMO seeds are “substantially equivalent” to ordinary seeds and thereby need no independent health or safety tests. While herbicides are treated slightly different, the fact that the agribusiness industry influences much of US Government policy has insured the most benign regulatory treatment of Roundup to date.
Alarming results
Now a new international scientific team headed by Prof. Andres Carrasco and including researchers from the UK, Brazil, USA, and Argentina have demonstrated that Glyphosate, the main active ingredient in Roundup causes malformations in frog and chicken embryos at doses far lower than those used in agricultural spraying and well below maximum residue levels in products presently approved in the European Union.[1] The Carrasco group was led to research the embryonic effects of glyphosate by reports of high rates of birth defects in rural areas of Argentina where Monsanto’s genetically modified “Roundup Ready” (RR) soybeans are grown in large monocultures sprayed from airplanes regularly. RR soy is engineered to tolerate Roundup, allowing farmers to spray the herbicide liberally to kill weeds while the crop is growing.
Carrasco presented his group’s findings at a press conference during the 6th European Conference of GMO Free Regions in the European Parliament in Brussels. He stated, “The findings in the lab are compatible with malformations observed in humans exposed to glyphosate during pregnancy.”
Widespread reports of human malformations began to be reported in Argentina beginning 2002, two years after widespread aerial spraying of Roundup and planting of RR Soybeans was begun. The test animals used by Carrasco’s group share similar developmental mechanisms with humans. The authors concluded that the results “raise concerns about the clinical findings from human offspring in populations exposed to Roundup in agricultural fields.” Carrasco added, “The toxicity classification of glyphosate is too low. In some cases this can be a powerful poison.”
The maximum residue level (MRL) allowed for glyphosate in soy in the EU was raised 200-fold from 0.1 mg/kg to 20 mg/kg in 1997 after genetically manipulated Roundup Ready soy was commercialized in Europe. Carrasco found malformations in embryos injected with 2.03 mg/kg glyphosate. Soybeans can typically contain glyphosate residues of up to 17mg/kg.
In August 2010 an organized mob violently attacked people who gathered to hear Carrasco talk about his research in the town of La Leonesa, Chaco province. Witnesses implicated local agro-industry figures in the attack. Viviana Peralta, a housewife from San Jorge, Santa Fe, Argentina was hospitalized together with her baby after Roundup spraying from planes flying near her home. Peralta and other residents launched a lawsuit that resulted in a regional court ban on the spraying of Roundup and other agrochemicals near houses.
Fonte: http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=21251
Note
1. Paganelli, A., Gnazzo, V., Acosta, H., López, S.L., Carrasco, A.E. 2010. Glyphosate-based herbicides produce terato-genic effects on vertebrates by impairing retinoic acid signaling. Chem. Res. Toxicol., August 9. http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/tx1001749
F. William Engdahl is a frequent contributor to Global Research. Global Research Articles by F. William Engdahl
CELULOSE NO EXTREMO SUL DA BAHIA: PESQUISA DE JORNALISTAS EUROPEUS
Sustentável somente no papel
Nas plantações para produção de papel da Bahia, Brasil
Por Leo Broers (Bélgica) Traduçao: Winnie Overbeek
Mundialmente, ONGs, prefeituras e empresas gráficas começam a usar papel certificado pelo FSC. Para o consumidor comum existem agora, além de papel para xérox e impressão, também lenços de papel e até mesmo papel de parede com a logomarca do FSC. Com o objetivo de investigar se a imagem verde de todo este papel se justifica, MO* foi fazer uma investigação no estado brasileiro da Bahia.
Os atores principais
• FSC - O Conselho de Manejo Florestal foi criado em 1993 para proteger as florestas no mundo. Já certificaram 135 milhões de hectares em mais de 80 países. Tal sucesso o FSC deve a sua estrutura única: empresas, organizações sociais e movimentos ambientais tomam todas as decisões importantes juntos. A certificação é realizada a partir de dez princípios com seus respectivos critérios.
• SGS Qualifor Certificadora que a pedido do FSC estuda e avalia pedidos de certificação e que aprova ou reprova esses pedidos.
• Veracel Empresa de celulose para papel, parceria entre a Sueco-finlandesa Stora-Enso e a empresa brasileira Fibria. Veracel maneja 96.000 hectares de eucalipto que garante uma produção anual de 1 milhão de toneladas de celulose (componente de madeira). Da celulose é feito papel sanitário, lenços de papel e revistas de papel reluzente. 98% é destinada para exportação. A chegada da Veracel foi anunciada como um projeto que criaria empregos e que desenvolveria a região. Por isso, a empresa pude contar com empréstimos com boas condições do Banco brasileiro de desenvolvimento (BNDES) e do Banco Europeu de Investimentos (EIB), que juntos financiaram quase a metade dos US$ 1.25 bilhões em investimentos. Atualmente , os 96 mil hectares empregam 2.600 pessoas. Significa mais ou menos um emprego em cada 37 hectares . A região era conhecida pela cultura de mamão. Essa cultura conseguia criar 1 emprego por hectare. Para a cultura do café vale uma relação de 1 emprego em cada 3 hectares .
• ASI Empresa que a pedido do FSC inspeciona certificadoras como a SGS Qualifor.
• CEPEDES ONG local e centro de pesquisa no Sul da Bahia, focado na expansão do eucalipto e a proteção da mata atlântica na região.
• IBAMA Agencia Federal do Meio Ambiente.
De forma rítmica, uma fileira infinita de árvores passa por nosso vidro de carro. No Extremo Sul da Bahia, as plantações de eucalipto nunca ficam longe. Em alguns lugares observamos restos da Mata Atlântica, a selva exuberante que antigamente cobria toda a região e da qual sobre apenas 4%. As empresas madeireiras e as serrarias tiveram tempos dourados por aqui. Depois da devastação, a região recebeu um novo impulso: eucalipto, o novo ouro verde. As plantações por onde passamos são todas da Veracel.
David Fernandes, o responsável para silvicultura da Veracel, nos guia sobre as estradas de chão no meio de um labirinto gigante de plantações de eucalipto. O carro pára em cima de um morro com vista ao orgulho da empresa: a paisagem em mosaico. Fernandes conta com entusiasmo sobre a harmonia entre o eucalipto nos tabuleiros mais altos e os trechos de mata atlântica nos morros íngremes e ao longo dos rios. ‘Veracel ocupa cerca de 200.000 hectares de terras. A metade disso é para a exploração do eucalipto, a outra metade para proteger a mata atlântica. O contato entre ambos é muito enriquecedor. É importante para a saúde do eucalipto, e para os animais a mata atlântica forma um corredor ideal para se deslocar.’
Um pouco mais na frente o verde fechado muda de forma abrupta numa planície árida onde recentemente toda a vegetação foi cortada. Mas aí de repente a paisagem segue com um trecho por onde novas árvores de eucalipto começam a crescer para um novo ciclo de produção. Seguimos entre dois montes enormes de arvores cortadas. Máquinas grandes, que parecem com feras pré-históricas mecanizadas, cortam arvores grandes num ritmo alucinante. Em menos de 25 segundos, uma árvore é cortada, é feito o desbaste, a mesma é cortada em cinco pedaços e pilhada.
Fernandes: ‘Por hectare plantamos 833 árvores. Em sete anos elas atingem uma altura de trinta metros e estão prontas para a colheita. ’ O clima na Bahia ajuda para obter a produtividade mais alta do mundo. ‘Apenas durante o primeiro ano pulverizamos por hectare nove litros de glifosato. É uma herbicida da Monsanto, mais conhecido como Round Up. É um produto perfeitamente seguro sem nenhum problema.’
Também segundo o FSC, a aplicação desta herbicida não é incompatível com a sustentabilidade. O que o David Fernandes não conta é que a Veracel ‘usa quantidades muito grandes de um produto químico que consta da lista de produtos proibidos pelo FSC’, segundo um relatório de inspeção da ASI sobre a certificação da Veracel. A empresa pulveriza as plantações que estão sendo atacadas por infestações de formigas com Sulfluramide. Para essa aplicação, a empresa pediu uma exceção do FSC, e conseguiu essa medida(autorização) em 2008.
O uso de produtos químicos pela Veracel deveria também ser controlado pelo IBAMA, a agência ambiental federal. Em lugares destinados para a regeneração da mata atlântica a empresa tinha usado herbicidas e por isso um grande número de árvores nativas foram destruídas. Por isso, a Veracel foi multada em R$ 400.000 (160 mil euros). Além disso, a empresa foi multada várias vezes por desmatamento, pela falta de recuperação da mata atlântica e pelo plantio de eucalipto próximo aos parques nacionais, práticas não permitidas pela lei.
‘Veracel sempre entra com recurso em Brasília’, diz Cleide Guirro, o chefe do IBAMA em Eunápolis, o município onde as plantações constam. A agência não consegue dar conta de fiscalizar todas as queixas contra a Veracel. ‘Temos seis fiscais para uma região quatro vezes o tamanho da Bélgica. E eucalipto é apenas um dos problemas que temos que dar conta’.
Papel ilegal
A primeira exigência para conseguir o certificado do FSC é que a empresa respeite as leis do país. Segundo a SGS Qualifor a Veracel atende a este principio, mas João Alves da Silva, promotor em Eunápolis, não concorda. ‘Veracel viola as leis trabalhistas, a legislação ambiental e a legislação criminal’, diz ele. A Justiça do Trabalho em Eunápolis contou nos últimos anos mais de 850 ações contra a Veracel e seus terceirizadas.
Alves da Silva pega uma pilha de dossiês. ‘O Ministério Público tem provas de crimes ambientais, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e corrupção. Temos um depoimento de um vereador que foi comprado pelo Veracel para convencer seus colegas aprovar leis favoráveis’.
Em 2008, a Veracel foi condenado pela justiça federal por desmatamento da Mata Atlântica, resultando numa multa de vinte milhões de reais (oito milhões de euros). Durante a análise do processo ficou claro que a Veracel não tinha um relatório de impactos ambientais válido para suas plantações de eucalipto. Por isso, o juiz declarou ilegais as licenças de 96.000 hectares de plantações.
‘O consumidor que compra a celulose da Veracel tem que ter consciência de que ele compra um produto ilegal e que o selo de sustentabilidade não é compatível com a realidade’, alerta João Alves da Silva. Veracel entrou com recurso e trabalho neste meio tempo no relatório de impactos ambientais exigido. ‘Não queremos nos meter no processo judicial’, reage Rosemary Vianna da SGS Qualifor. ‘Enquanto não há uma decisão definitiva do Juiz, monitoramos este caso nas nossas auditorias’. A primeira queixa foi ajuizada há já 17 anos.
Segundo o promotor existe uma mistura de interesses. ‘O certificador é pago pela empresa que é certificada. Esta relação de dependência resulta num grande problema. SGS camufla as violações da Veracel. Vou informar ao FSC que ele está sendo abusado pela SGS e pela Veracel. Aí eu quero ver se eles assumem sua responsabilidade’.
Protesto indígena
O terceiro dos dez princípios aos quais as empresas têm que atender para conseguir o certificado do FSC é o respeito aos direitos dos povos indígenas. Eliana Anjos, responsável de sustentabilidade da Veracel nos assegura que Veracel mantém uma relação excelente com as comunidades indígenas na região. Biribiri, uma liderança da comunidade indígena Pataxó de Coroa Vermelha confirma isso com vontade.
‘O governo nos esquece, mas felizmente a Veracel patrocina nossos projetos de educação e de saúde.’ A aldeia indígena é localizada exatamente no coração turístico da Bahia, onde os portugueses chegaram no Brasil. Entretanto Coroa Vermelha se tornou uma atração turística em si e a reserva de Jaqueira está aberta para visitas guiadas para turistas.
No entanto, Coroa Vermelha é mais uma exceção do que uma regra. Na região onde se localiza o eucalipto da Veracel apenas quatro das 19 comunidades Pataxó e Tupinambá têm um território próprio. Os habitantes de Guaxuma, uma aldeia indígena na beira da BR-101, aguardam há mais de 10 anos pela regularização do seu território. O território que eles reivindicam alcança uma área além das plantações que se aproximam cada vez mais. Há alguns anos que já estão totalmente cercados por eucalipto. Kuhupyxa – podemos chamar ele também de Antônio- conta que dez anos atrás sua comunidade ainda caçava na mata onde hoje tem eucalipto.
‘Eles têm desmatado dia e noite e com grandes tratores destruíram tudo. Mas infelizmente não temos provas disso.’ Ele nos leva a uma cerca perto de sua casa. ‘Até aqui a Veracel queria plantar eucalipto. A menos de dez metros da minha porta. Eles começaram a pulverizar tudo com veneno enquanto as crianças estavam brincando fora de casa. Aí nos afugentamos eles com arco e flecha. Eles não têm um mínimo de respeito por nos’.
Takwahy, o filho de Kuhupyxa, é pai de dois filhos. Seu sorriso esconde muita impotência. ‘Os rios e nascentes por aqui secaram todos, porque o eucalipto necessita muita água. E quando chove, o veneno que é usado nas plantações percorre para os rios – a água que bebemos e onde tomamos banho. Há dois anos que temos um reservatório de água na aldeia porque não confiamos na água do rio.’ A SGS Qualifor estava informada sobre a queixa de Guaxuma, mas ninguém foi fazer uma visita. ‘Considerando os produtos que estão sendo usados e as dosagens, contaminação da água é muito improvável’, classifica o relatório da SGS o caso.
Enganar as pessoas
O centro de pesquisas CEPEDES em Eunápolis tem filmagens em que a Veracel, na época – anos 90 - ainda chamada de Veracruz , desmata mata atlântica com trator e correntão. Para eles está mais do que claro que a empresa não merece o certificado do FSC. ‘Junto com quarenta outras ONGs, sindicatos, movimentos ambientalistas e comunidades indígenas, mandamos uma carta para informar o FSC sobre os impactos negativos da Veracel’, diz Ivonete Gonçalves do CEPEDES.
Uma condição fundamental para ser reconhecida como plantação sustentável é que esse tipo de plantação não pode estar localizada em lugares onde recentemente tinham ainda florestas ou matas nativas. ‘Se um pedaço de floresta tropical depois de 1994 – quando os princípios do FSC já eram conhecidos - foi transformado numa plantação, aquele lugar nunca pode receber o certificado FSC’, afirma Bart Holvloet, diretor do FSC-Bélgica.
Mesmo assim, lemos nos relatórios de auditoria da SGS Qualifor que a Veracel desmatou depois de 1994 e plantou eucalipto nesses lugares. ‘Mas essa transformação ocorreu antes que estava se falando de certificação’, reage Rosemary Vianna da SGS Qualifor. ‘E, além disso, o eucalipto já foi cortado e a recuperação ambiental já iniciada. Então não vejo porque ainda colocar em cheque o certificado’.
Em função de que nas primeiras auditorias para o processo de certificação da Veracel alguns interessados importantes não foram consultados, uma nova onda de crítica foi gerada. Esta vez contra a empresa certificadora SGS Qualifor. FSC organizou uma auditoria extra e mandou uma equipe da ASI para a região, uma empresa que inspeciona para o FSC o trabalho das certificadoras. A visita incluiria uma conversa com CEPEDES. ‘Estávamos bastante otimistas’, diz o membro Winfridus Overbeek, que pensava que a ASI ainda ia levar a sério as queixas. ‘Mas duas semanas antes da reunião, soubemos que o caso já foi decidido. Veracel tinha recebido o certificado.’
Em função disso, a reunião marcada perdeu sentido, opinou a organização. CEPEDES já teve experiência com dois outros processos de certificação controvertidos na região e agora não acredita mais no certificado. Ivonete Gonçalves é claro: ‘Este certificado serve para enganar pessoas no Norte. O certificado do FSC existe apenas no papel, mas não na prática’.
Num relatório contundente a equipe de inspeção da ASI acaba com o trabalho da SGS Qualifor. A SGS Qualifor seguiu insuficientemente os critérios do FSC, não dedicou tempo suficiente para uma auditoria profunda e, além disso, se contentou muitas vezes com os documentos cheios de números e os estudos da Veracel sem verificar os mesmos em campo. Segundo o relatório, a ASI não teria dado o certificado. Mas o papel da ASI é limitado à inspeção da certificadora. Retirar o selo apenas a SGS Qualifor pode fazer.
Ninguém come eucalipto
Num dia chuvoso encontramos um grupo de homens e mulheres do MLT, um movimento menor de camponeses sem terra que cortam com facão pequenas árvores de eucalipto. Rose Lemos vem ao nosso encontro: ‘Esta terra é terra devoluta, é de propriedade do Estado e deve ser destinado primeiramente para reforma agrária. A Veracel não tem o direito de plantar aqui’, ela diz.
Organizações sociais afirmam que a Veracel plantou cerca de 30.000 hectares de terras devolutas com eucalipto. O MLT espera por uma decisão judicial sobre este pedaço de terra devoluta: ‘Queremos produzir aqui novamente alimentos, porque o povo não come eucalipto. Esta região é capaz de exportar comida em vez de ter que importar isso’. Mais na frente o MLT já plantou mandioca, feijão, milho, abóbora e outras culturas. As 65 famílias que vivem debaixo da lona sonham em abastecer a cidade, porque agora quase toda a comida vem de outros estados.
Na visão da Veracel, as ações dos movimentos de camponeses sem terra são brincadeiras de vândalos, que desde 2009 já causaram cinco milhões de reais (dois milhões de euros) de prejuízos. ‘Muitos se juntam a estes movimentos porque querem ter a propriedade da terra, o que não significa que querem trabalhar na terra’, diz Sergio Alipio, Presidente da Veracel. ‘Esta região é destinada para produzir biomassa, como o eucalipto. Aqui não há tradição de agricultura familiar.’ É assim que ele define a questão dos agricultores sem terra.
Idalberto José lima não concorda. Ele vive na beira da BR-101, numa barraquinha frágil. Numa terra do tamanho de um lenço, ele planta mandioca, ‘para sobreviver’, ele diz, encostando na enxada. O trafico intenso de caminhões quase impossibilita uma conversa. ‘A Veracel comprou todas as terras agricultáveis, não sobra nada’. Mas ele não se queixa, porque ‘muita gente está numa situação pior do que eu. Eles procuram serviço na área rural, mas não há mais nada porque só há eucalipto’.
Muitos camponeses venderam suas terras para Veracel. ‘Onde antigamente tinham fazendas produtivas (plantações de café), hoje só sobra eucalipto. Pessoas que viviam na área rural, mudaram para a cidade’, diz Roberto Conceição Santana, chefe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE em Eunápolis. A Veracel contesta com dados próprios: ‘No momento da compra, 1197 pessoas trabalhavam num total de 212.649 hectares de terras que compramos’, diz Débora Jorge, responsável de comunicação da Veracel.
A cidade de Eunápolis conta agora com 85.000 habitantes. Há bastantes novas lojas movimentados no comércio que devem seu sucesso à presença da Veracel, mas também o trafico de drogas aumentou. Aqui andam a noite meninos com pouco mais de doze anos armados pela cidade, em busca de um celular ou alguma outra garantia valiosa. Na beira de uma favela, Roberto Joaquina dos Santos, habitante da periferia da cidade, conta como tudo mudou: ‘As pessoas que se mudaram para cá conheciam apenas a cultura de semear e colher. Eles não estavam preparados para a vida na cidade. As favelas cresceram e trouxeram o crack e muita violência para a cidade.’
Sustentabilidade sem fronteiras?
Se os acionistas derem sinal verde, Veracel aumentará sua produção de celulose de 1 milhão de toneladas para 2,7 milhões de toneladas. Para isso ela precisa de mais 92.000 hectares de eucalipto. Os pedidos de licença ambiental já foram feitos. Segundo ASI, a Veracel nem de longe está pronto para conseguir o certificado FSC para esta ampliação. Mas é a SGS Qualifor que terá a última palavra. De qualquer forma, o presidente Sergio Alipio é otimista: ‘Se continuarmos a atender a todos os princípios e critérios do FSC como atendemos até hoje, é algo normal que as plantações novas serão certificadas’.
Conflitos sociais e ecológicos, a questão indígena, problemas com a segurança alimentar, o êxodo rural e a redução de terras agricultáveis serão agravados com a expansão do eucalipto, escreve IMA, o Instituto de Meio Ambiente da Bahia, num relatório do final de 2008. Aliás, o IMA espera que os conflitos aumentarão ainda mais com a chegada da BahiaBio, um projeto que em mais 300.000 hectares plantará cana de açúcar e em 64.000 hectares Palma Africana para a produção de biocombustíveis na região. ‘Há uma necessidade urgente para uma visão integrada’, conclui o relatório governamental.
“Plantações sustentáveis” sob crítica verde
O fato que plantações de árvores em larga escala recebem o certificado FSC, não só causa controversas no Brasil. Há anos que ONGs como Timberwatch Coalition (Africa do Sul), a Rede Alerta contra o Deserto Verde, o FSC-Watch e o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicas (WRM) pressionam – sem sucesso – o FSC para parar de certificar monoculturas em larga escala. Wally Menny da Timberwatch Coalition fala a partir do contexto Sulafricano. Lá, 80% das plantações industriais de árvores tem o certificado FSC.
‘Plantações de espécies de árvores de rápido crescimento aumentam a pressão sobre a vegetação nativa e terras agricultáveis de grande valor. Elas causam desastres sociais e desestruturam economias locais. O FSC deve entender que plantações industriais de árvores em larga escala não podem ser certificadas em nenhuma hipótese como manejo florestal responsável.’
A maior parte das queixas contra o FSC vem de países onde as plantações de árvores crescem rapidamente como Brasil, Equador, Tailândia e África do Sul. Bart Holvloet, o diretor do FSC-Bélgica, denomina estes problemas como problemas típicos para uma experiência iniciante e em crescimento.
Holvloet: ‘Plantações se tornarão apenas mais importantes para nosso fornecimento de fibras. Neste momento, elas já representam metade do nosso consumo de madeira e papel, mesmo se futuramente talvez menos plantações sejam candidatas para o certificado FSC se os problemas continuem persistindo.’ No entanto, os críticos acham que certificar plantações de árvores é fundamentalmente inconciliável com os nove outros princípios de manejo florestal sustentável que o FSC proclama.
Organizações alemãs e suecas deixam o FSC
As críticas aumentam cada vez mais também de organizações ambientais que são filiadas ao FSC. No ano passado a organização alemã Robin Wood deixou o FSC depois de 12 anos de filiação ao FSC Internacional. ‘Não queremos mais ser co-responsável pelo fato que as monoculturas industriais recebam um selo verde graças ao FSC’, declara Peter Gerhardt de Robin Wood. Gerhardt aponta, dentre outros, para o uso de pesticidas e fertilizantes químicos em plantações certificadas pelo FSC.
Também Jutta Kill de Fern, uma ONG que é membro do FSC desde 1995, está insatisfeita. ‘Há muito tempo que esperamos por mudança, mas não vemos nenhum resultado. A situação é tão grave que nosso apoio ao FSC está sendo questionado por nossos parceiros no Sul. Demasiadamente, empresas erradas abusam do selo verde do FSC para enfraquecer o protesto local. Em relação a papel, o FSC dificilmente pode garantir o que prometa.’
Os problemas não se restringem às plantações industriais de árvores e tampouco às áreas periféricas sem leis no Terceiro Mundo. No relatório ‘Cuttin the Edge’ a SSNC, a maior organização ambiental da Suécia que há 15 anos estava junto no início do selo FSC, questiona a situação alarmante das florestas árticas na Suécia. Segundo a organização, as três maiores empresas que manejam florestas na Suécia ameaçam o futuro das florestas e sua biodiversidade. Mesmo assim, as três têm o certificado do FSC.
Apesar disso, uma dessas empresas, a SCA, foi advertida pelo FSC pelo desmatamento de florestas com um alto valor de proteção, sendo que árvores de 250 a 300 anos de idade não foram poupadas. Numa área de pouco mais de 40 hectares , a SSNC documentou 300 infrações graves com fotos e coordenadas. A SCA nem respeita a legislação florestal da Suécia, nem suas próprias normas, e tampouco os princípios do FSC. Mesmo assim, em 2008, a validade do seu certificado do FSC foi simplesmente prorrogada.
Em junho de 2010, a SSNC decidiu deixar o FSC-Suécia. Jonas Rudberg, o especialista em florestas da SSNC: ‘Durante anos fizemos de tudo para melhorar o FSC-Suécia. Mas o padrão continua fraco demais e as exigências não estão sendo cumpridas. E quando alertamos sobre uma infração, as sanções para as empresas são ligeiras demais para realmente ter um impacto.’
O FSC lançou em fevereiro de 2010 uma revisão dos princípios e critérios do FSC para o contexto sueco. Eles vão entrar em vigor a partir de 2010. Mas é preciso esperar para ver se as empresas florestais agora serão tratadas com mais rigor. Por enquanto, a SSNC continua sim membro do FSC Internacional.
‘Sem caminho de volta’
Bart Holvloet admite que há problemas mas, segundo ele, em relação às plantações de árvores não há como voltar atrás: ‘Sabíamos desde o início que plantações seriam uma questão controversa e infelizmente sempre serão assim. Mas eu não vejo o FSC parar de certificar-las. É lamentável que tais organizações que focam nas plantações querem jogar a criança com a água e bacia fora.’ O diretor do FSC-Bélgica aponta que plantações são apenas 8 das 135 milhões de hectares de florestas certificadas. Mas em alguns países essa relação é sensivelmente diferente. No Brasil há 5,5 milhões de hectares de florestas certificadas pelo FSC, sendo que 1,8 milhões de hectares são plantações.
Fonte: http://www.mo.be/index.php?id=348&tx_uwnews_pi2[art_id]=29495&cHash=7da216e2fb
domingo, 12 de setembro de 2010
Materia publicada em Le Monde: Creditos de Carbono (MDL) "falsos"
Cresce a tensão mundial em torno de milhões de créditos de carbono "falsos"
Grégoire Allix-
ONGs acusam indústrias de criarem créditos de carbono "falsos"
A ONU (Organização das Nações Unidas) estaria reconhecendo a existência de uma enorme falha no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)? Em menos de um mês, seis fábricas asiáticas viram suas alocações de créditos de carbono sendo bloqueadas pela ONU, tempo de verificar se essas indústrias abusaram ou não do MDL, principal dispositivo do protocolo de Kyoto que permite aos países desenvolvidos financiarem reduções de emissões de gás de efeito estufa nos países em desenvolvimento, em troca de cotas de CO2.
No momento em que a negociação internacional sobre o clima deve decidir sobre o futuro do protocolo de Kyoto e obriga as nações industrializadas a acelerarem sua ajuda aos países pobres, o caso vem causando polêmica, a ponto de o debate técnico ter adquirido um viés muito político.
Todas as instalações suspeitas dizem respeito à combustão do HFC23, um potente gás de efeito estufa originado da fabricação do gás refrigerante HCFC22. Sozinhos, os 19 locais de destruição do HFC23 produzem metade dos créditos de carbono do MDL. O problema: segundo organizações não-governamentais, o cálculo considerado pela ONU, generoso demais, levou a indústria química a inchar artificialmente a produção de HCFC22 e do HFC23. A maioria desses créditos seriam, na verdade, “falsos”.
Nervosismo
A comissão executiva do MDL, que recebeu o caso no fim de julho, não condenou oficialmente o mecanismo. Mas, alarmada por seus próprios peritos, ela visivelmente decidiu colocá-lo em suspensão, inclusive para os projetos já aprovados.
A pausa poderá ser longa: as Nações Unidas agora exigem, antes de distribuir os créditos de carbono, poder verificar dez anos de dados técnicos e comerciais para cada fábrica. Ao todo, mais de 9 milhões de títulos de emissão esperados pelo mercado já estão bloqueados, talvez definitivamente. E é só o começo: todos os pedidos por vir deverão ser suspensos, o que mergulha o mercado do carbono em um certo nervosismo.
“Isso tem um impacto muito forte: esperam-se 30 a 40 milhões de créditos a menos até o fim do ano”, calcula Emmanuel Fages, analista de carbono na Orbeo. “Até 2012, a suspensão dos HFC23 poderá representar até 150 milhões de créditos de carbono a menos em um total de 900 milhões esperados por meio do MDL”. Logicamente, essa escassez das permissões de emissão fez aumentar o preço dos créditos vindos do MDL, 10% em dez dias, puxando o preço das cotas europeias, sobre as quais se concentram os especuladores.
Acima de tudo, o caso se tornou alvo de uma polêmica entre instituições internacionais. O Banco Mundial surpreendentemente apresentou-se como defensor dos projetos HFC23, sem nem mesmo esperar os resultados da investigação da ONU. Em um documento publicado em seu website, a instituição desconsidera uma a uma as críticas e as dúvidas. Antes de concluir que “a metodologia de incineração do HFC23 não deveria ser suspensa” e que uma possível revisão “deverá se apoiar nos conselhos da indústria e dos especialistas do setor”.
Um sistema frágil
Esse argumento foi duramente criticado pelas ONGs Environmental Investigation Agency, CDM Watch e Noé21, que denunciam um “conflito de interesses”. O Banco Mundial de fato investiu, em 2006, em dois dos maiores projetos de incineração de HFC23 na China – sendo que um deles acaba de ser suspenso pela ONU - , desembolsando, por meio de seu fundo Umbrella Carbon Facility, 775 milhões de euros para 130 milhões de créditos, dos quais muitos ainda não lhe foram entregues.
Em 25 de agosto, era a comissária para o Clima, Connie Hedegaard, que incendiava a polêmica. “Pedi a meus serviços que preparem novas restrições para o uso dos créditos ligados aos gases industriais após 2012”, disse a comissária, que quer “uma ampla revisão” do MDL.
Em outras palavras, critérios de qualidade mais exigentes que os da ONU poderão ser impostos pela Europa antes de autorizar a entrada dos créditos de carbono do MDL no Regime Comunitário de Licenças de Emissão. Uma proposta poderá ser finalizada com a conferência sobre o clima de Cancún (México), no fim de novembro, e submetida ao Parlamento Europeu. A decisão teria consequências consideráveis: a Europa continua sendo a locomotiva do mercado mundial de carbono.
Frente a essas ameaças sobre a principal fonte de permissões de emissão, o Banco Mundial invoca o fantasma de um colapso da economia do carbono: “As reduções de emissões de gases de efeito estufa geradas pelos projetos HFC23 são cruciais para criar liquidez no mercado do carbono”. Proteger créditos duvidosos para não abalar o dispositivo de combate à mudança climática: a hipótese em si revela como o sistema é frágil.
sábado, 4 de setembro de 2010
AGROTOXICOS: CIENTISTA AFIRMA QUE GLIFOSATO PRODUZ MALFORMAÇOES EMBRIONARIAS EM ANIMAIS
“O que hoje é negocio para alguns, amanha será desastre para muitos. Deveria reformular-se o método de produção”, afirmou o chefe de Embriologia Molecular da Universidade Nacional de Buenos Aires e investigador principal do Conselho Nacional de Investigações Cientificas e Técnicas (CONICET) da Argentina.
Como resultado de um estudo de vários anos, Carrasco elaborou em 2009 um informe onde afirma que o glifosato “é altamente tóxico” pelo que “afeta diretamente a saúde de humanos e animais”.
“Concentrações ínfimas de glifosato, bem menores que as utilizadas na agricultura, são capazes de produzir efeitos negativos na morfologia do embrião, sugerindo a possibilidade de que estejam interferindo nos mecanismos normais do desenvolvimento embrionário”, sinaliza o informe.
Agora, o investigador ratificou os resultados das suas pesquisas e em declarações a imprensa disse que “nossos experimentos demonstram que o glifosato é capaz de produzir malformações”.
“É verdade que o glifosato, sendo o mais utilizado, é apenas um dos herbicidas em questionamento, mais quando falamos destas coisas estamos falando das conseqüências de todos os agrotóxicos”, destacou o pesquisador.
A pesquisa foi publicada este mês na revista científica Chemical Research Toxicology e foi apresentada nas ultimas horas pelo próprio Carrasco no Estado de Córdoba (Argentina) no Encontro de Médicos de Povos Fumigados com Agrotóxicos.
Carrasco disse que deveriam se realizar todos os estudos epidemiológicos para determinar a periculosidade dos agrotóxicos.
“Deve haver uma decisão política e não se deveria chegar aos extremos de ter incrementos na taxa de câncer ou malformações, no entanto que o Estado não admite o problema” questionou o cientista-.
Sinalizou que porem o glifosato não está proibido na Europa, “lá não é usado como aqui”, destacando que na Argentina se utilizam uns 200 milhões de litros de glifosato por ano.
http://www.lanoticiadigital.com.ar/MuestraNoticia.asp?id=14303
terça-feira, 24 de agosto de 2010
AGROTOXICOS: PROBLEMAS PRENATAIS E EM CRIANÇAS
Exposição pré-natal a pesticidas organofosforados é associada ao deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
admin
agrotóxicos, Henrique Cortez, pesquisa, saúde
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] As crianças que foram expostas a pesticidas organofosforados, enquanto ainda no ventre de suas mães, são mais propensas a desenvolver distúrbios de atenção anos mais tarde. É o que conclui um novo estudo [Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children] realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley.
As novas descobertas, que serão publicadas na revista Environmental Health Perspectives (EHP), é dos primeiros a analisar a influência da exposição pré-natal aos organofosforados e seus efeitos posteriores no desenvolvimento de problemas de atenção. Os pesquisadores descobriram que os níveis pré-natais de metabólitos organofosforados foram significativamente ligados a problemas de atenção na idade de 5anos, com efeitos aparentemente mais fortes entre os meninos.
No início deste ano, um outro estudo por pesquisadores da Universidade de Harvard também associava a exposição a pesticidas organofosforados em crianças em idade escolar com maiores taxas de sintomas de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
“Estes estudos fornecem um crescente corpo de evidências de que a exposição a pesticidas organofosforados podem afetar o neurodesenvolvimento em humanos, especialmente entre as crianças”, disse a pesquisadora que liderou estudo, Brenda Eskenazi, da UC Berkeley, professora de epidemiologia e de saúde materna e infantil. “Estávamos especialmente interessados em exposição pré-natal, porque esse é o período em que o sistema nervoso do bebê está se desenvolvendo mais.”
O estudo acompanhou mais de 300 crianças que participam no Centro de Avaliação de Saúde de Mães e Crianças de Salinas (CHAMACOS), um estudo longitudinal conduzido por Eskenazi, que analisa riscos ambientais e de saúde reprodutiva. As mães e as crianças, no estudo são mexicano-americanos que vivem em uma comunidade agrícola, e, provavelmente por isto, a sua exposição a pesticidas é maior e mais crônico, em média, do que a da população em geral dos EUA.
No entanto, os pesquisadores salientaram que os pesticidas que examinaram são amplamente utilizados e que os resultados deste estudo são uma bandeira vermelha que justifica medidas cautelares.
“É sabido que o alimento é uma fonte significativa de exposição a pesticidas na população em geral”, disse Eskenazi. “Eu recomendo lavar bem as frutas e legumes antes de comê-los, especialmente se você está grávida”.
Pesticidas organofosforados agem interrompendo neurotransmissores, principalmente acetilcolina, que desempenha um papel importante em manter a atenção e a memória de curto prazo.
“Dado que estes compostos são projetados para atacar o sistema nervoso dos organismos, não há razão para ser cauteloso, especialmente em situações onde a exposição pode coincidir com os períodos críticos do desenvolvimento fetal e infantil”, disse outra pesquisadora, Amy Marks.
Muitos destes mesmos pesquisadores da UC Berkeley também estão pesquisando que as crianças com determinadas características genéticas podem ter maior risco, uma descoberta que também será sendo publicada EHP.
Esse estudo descobriu que, aos dois anos de idade, com baixos níveis de paraoxonase 1 (PON1), uma enzima que quebra os metabólitos tóxicos de pesticidas organofosforados, teve mais atrasos do desenvolvimento neurológico do que aqueles com níveis mais elevados da enzima. Os autores sugerem que pessoas com determinados genótipos PON1 poderiam ser particularmente vulneráveis à exposição a pesticidas.
No estudo sobre problemas de atenção, os investigadores testaram seis metabolitos de pesticidas organofosforados nas mães duas vezes durante a gravidez e nas crianças várias vezes após o nascimento. Juntos, os metabólitos representam os produtos de cerca de 80 por cento de todos os pesticidas organofosforados usados no vale Salinas.
Os pesquisadores então avaliaram as crianças na idade de 3,5 e 5 anos para os sintomas de distúrbios de atenção e TDAH utilizando os relatórios do comportamento materno infantil, o desempenho em testes padronizados de computador e as avaliações do comportamento. Eles controlavam outros fatores como peso, exposição ao chumbo e amamentação.
Cada aumento de dez vezes em metabólitos de pesticidas na fase pré-natal foi associado a ter cinco vezes mais chances de caracterização nos testes computadorizados aos 5 anos de idade, sugerindo uma maior probabilidade de uma criança ser diagnosticada com TDAH clínica. O efeito parece ser mais forte em meninos do que para as meninas.
Os resultados adicionam à lista de contaminantes químicos que têm sido associados ao TDAH nos últimos anos. Além dos pesticidas, os estudos encontraram associações com a exposição ao chumbo e ftalatos, que são comumente usados em brinquedos e plásticos.
“Altos níveis de sintomas de TDAH aos 5 anos de idade são fatores importantes para problemas de aprendizagem e rendimento escolar, lesões acidentais em casa e na vizinhança, uma série potencial de problemas no relacionamento com os colegas e outras capacidades sociais essenciais”, disse o professor de psicologia, Stephen Hinshaw, da UC Berkeley, um dos maiores especialistas dos EUAsobre o TDAH e que não fazia parte deste estudo. “Encontrar fatores de risco evitáveis é, portanto, um importante problema de saúde pública”.
O estudo [ Marks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, et al. 2010 Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect doi:10.1289/ehp.1002056] está disponível para acesso integral, no formato PDF. Para acessar o artigo clique aqui.
Para maiores informações, transcrevemos, abaixo, o abstract:
Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American ChildrenMarks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, et al. 2010 Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect doi:10.1289/ehp.1002056
Background: In utero exposure to organophosphate (OP) pesticides, well-known neurotoxicants, has been associated with neurobehavioral deficits in children.
Objectives: We investigated whether OP exposure, as measured by maternal urinary dialkyl phosphate (DAP) metabolites during pregnancy, was associated with attention-related outcomes among Mexican-American children living in the agricultural Salinas Valley and followed to ages 3½ (n=331) and 5 (n=323) years.
Methods: Mothers completed the Child Behavior Checklist (CBCL). We administered the NEPSY-II visual attention subtest to children at 3½ years and the Conners’ Kiddie Continuous Performance Test (K-CPT) at 5 years. The K-CPT yielded a standardized attention deficit/hyperactivity disorder (ADHD) Confidence Index score. Psychometricians scored 5-year olds’ behavior during testing using the Hillside Behavior Rating Scale (HBRS).
Results: Prenatal DAPs were non-significantly associated with maternal report of attention problems and ADHD at age 3½, but were significantly related at age 5 (Attention: β = 0.7; 95% confidence interval (CI), 0.2, 1.2; ADHD:β =1.3; 95% CI, 0.4, 2.1). DAPs were associated with the K-CPT ADHD Confidence Index (OR=5.1; 95% CI, 1.7, 15.7) and non-significantly associated with HBRS ADHD (β = 0.4, 95% CI, -0.04, 0.9). DAPs were also associated with a composite ADHD indicator of the various measures (OR=3.6, 95% CI, 1.2, 11.0). Some outcomes exhibited interaction by sex with associations found only among boys.
Conclusions: In utero DAPs were associated adversely with attention in young children as assessed by maternal report, psychometrician observation, and direct assessment. These associations were more robust at 5 than 3½ years and stronger in boys.
Citation: Marks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, Johnson C, et al. 2010. Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect :-. doi:10.1289/ehp.1002056
Received: 12 February 2010; Accepted: 29 March 2010; Online: 19 August 2010
Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 24/08/2010, com informações de Sarah Yang, University of California – Berkeley
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
CIENTISTAS BRASILEIROS PROPOEM CODIGO DE BIODIVERSIDADE NO LUGAR DO FLORESTAL
Aziz Ab'Saber sugere código da biodiversidade no lugar do florestal
30/07/2010
O geógrafo e Acadêmico Aziz Ab'Saber, um dos homenageados na 62ª Reunião Anual da SBPC*, defendeu em uma conferência, realizada no dia 27/7, a criação de um código da biodiversidade no lugar do atual Código Florestal, que está em discussão no Congresso. Para o geógrafo de 88 anos e presidente emérito da SBPC, é preciso ampliar a proteção dos biomas e expandir a noção de área de preservação para além das florestas. "Precisamos de um código da biodiversidade e não apenas florestal. Se não, como fica a caatinga, por exemplo?", questionou.
Ab' Saber criticou a proposta de revisão da norma, que protege do desmatamento áreas de floresta. Para ele, o texto defendido pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) beneficia apenas "um grupo de riquinhos" que não segue os preceitos da bioética. "Os ricos do mundo não querem saber do ambiente, querem é ganhar dinheiro a seu favor com a tecnologia. Temos que ter mais cuidado com os fatos da história da vida. Que os ricos fiquem com riqueza adquirida, mas que não se metam na destruição da vida da Terra", afirmou.
O Acadêmico conclamou os cientistas brasileiros a se manifestarem contra a reforma e alertou para os riscos de um novo código florestal, mais permissivo, ser aprovado. "Não dá para comparar o que eles querem que aconteça com a Amazônia com o que já aconteceu no passado. No passado havia muita ignorância sobre todos esses fatos [relativos às consequências do desequilíbrio ambiental], mas hoje temos uma consciência ambiental, uma consciência bioética. Temos que fazer planejamento, pois o nosso tempo é o tempo da ciência e do conhecimento", discursou.
Em artigo publicado na página da SBPC, o geógrafo aponta seus principais argumentos contra alterações no código florestal. Nele, há críticas sobre a estadualização da legislação ambiental, a possibilidade de recuperação de áreas degradadas com vegetação homogênea e a tentativa de redução da área obrigatória de preservação.
"[Os reformuladores] poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em espaços de quarteirões implantados para venda de lotes de cinquenta a cem hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconsequente, decorridos poucos anos', escreve.
(Marcelo Medeiros para o jornal da SBPC, 29/7/2010; foto de Lucia B. Torres)
*Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências
http://www.abc.org.br/IMG/doc/doc-181.doc
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Um dia no mangue
Eu vou te contar
Ouvi um assobio
Era de Nana
A nossa negona
Guarda o manguezal
Ela é verdadeira
Como amanhecer
Ela pode te encontrar
Ela pode te perder
Mulher marisqueira
Irmã de Nana
É a companheira
Do seu manguezal
Mulher marisqueira não teve
Salão
As suas unhas curtas
Limpa de facão
Pés negros de lama
Gosto das caricias
Das tuas mãos ásperas
Mãos que semeiam
Sementes de amor
Nesta lama preta
Berçário do mar
Mulher marisqueira
Deves vigiar
Fica bem atenta
Podem te expulsar
Tem gente querendo
Perseguir Naná
Aterrar sua lama
Seus bichos matar
Para suas mansões
Poder levantar
No meio de este
Nosso manguezal
Mulher marisqueira
Deves vigiar
A trilha que segues
Eles vão fechar
Com muros, arames,
Cachorros, alarmes
Querem impedir
Que teus passos meigos
Cheguem até mim
Lixo e agrotóxicos
Vão aqui jogar
Criar camarão e beijupirá
Tanta e tanta vida
Deixaras matar?
Ostras, caranguejos,
Sururu, siris
O supermercado
Dos pobres ta aqui
Temos que cuidar
Temos que zelar
Aquilo que é nosso
Quem pode tirar?
O que Deus criou
Quem vai descriar?
Mulher marisqueira
Você e tuas crianças
Você pescador
São nossa esperança
Para tanta dor
O outeiro tomaram
A praia cercaram
E os tubarões
Infestam o mar
Vamos a deixar-lhes
Nosso manguezal?
Temos que cuidar
Temos que zelar
Aquilo que é nosso
Quem pode tirar?
O que Deus criou
Quem vai descriar?
Que viva Naná !
Patricia Grinberg (jornalista)
Santa Cruz Cabralia - 29-06-08
DIA DOS PESCADORES