sexta-feira, 28 de novembro de 2014

OPERATIVO POLICIAL NA MATA MEDONHA EXPULSA INDÍGENAS DA ÁREA DA RETOMADA



Aldeia Mata Medonha, Santa Cruz Cabrália, Bahia    (por Patricia Grinberg)


Protestos pacíficos, lágrimas, camionetes da Policia Federal carregados de colchoes, fogões e os pertences das famílias que moravam na área da retomada da Aldeia Mata Medonha e um indígena de 85 anos, cego, que não entendia o que estava acontecendo mas teve que sair da sua casa de taipa foram algumas das imagens da tarde de hoje nessa aldeia pataxó localizada no município de Santa Cruz Cabrália, no Extremo Sul da BA.

Os quase 300 efetivos ao total da Policia Federal, Policia Militar e CAEMA chegaram pouco depois de meio-dia  a Aldeia vizinha ao povoado de Santo Antonio, junto com funcionários da FUNAI Sul da Bahia e oficiais de justiça, para executar uma liminar de reintegração de posse apresentada pelo fazendeiro de nome Constantino.

Umas dez familias pataxó, totalizando quase cem pessoas, moravam nessa parte da Aldeia, chamada Aldeia Nova o retomada, desde há 12 anos.

O operativo policial nesta região executou, nas ultimas 48 horas, 17 liminares de reintegração de posse na Aldeia Barra Velha, próxima ao Parque Monte Pascoal, e duas na Coroa Vermelha, também no município de Santa Cruz Cabrália.

Clarice carrega a menor dos seus dez filhos entanto assiste, impotente, ao despejo de seu pai, Etelvino Bispo dos Santos, de 85 anos, não vidente.  A seguir, sera a casa de Clarice, também de taipa, que será despejada.  Os pertences das familias são carregados nas camionetes da PF e trasladados até o núcleo da Aldeia, onde se localiza a cantina e a Escola Indigena.

Até as ultimas horas da tarde, em que esta reportagem permaneceu na Aldeia, o operativo foi realizado em forma pacifica e executado pela PF.  Os oficiais chegados desde Brasilia, do departamento da PF de Assuntos Indígenas, tentavam explicar que "estamos aqui para cumprir uma ordem da justiça e para garantir a paz".

"A culpa é da FUNAI, que não comprou as terras, onde achamos restos de cerâmica e outros vestígios  arquelógicos que amostram que são terras indígenas", dizem os pataxó.

 Os funcionários da FUNAI se defendem, afirmam que são impotentes perante a ação da justiça e que estão alí para defender os direitos humanos dos indigenas.  

"Nao somos contra a luta dos povos indígenas, mas temos que cumprir a ordem da justiça", diz a esta reportagem o oficial da Policia Federal de Brasilia, Luiz Carlos Ramos Porto.

Alex, um jovem pataxó, quem como outros da sua idade não oculta as lagrimas correndo sobre a pintura tradicional no seu rosto, pergunta: "por que não fazem isto com os delinquentes?".

E Ernande Rocha, outra das lideranças juvenis, declara que "a coisa mais triste que tem no mundo para nós , indígenas, é que nos tirem a terra".

"Nosso povo pataxo pede socorro, não aguenta mais esta situação", sinaliza Ernande, destacando que "nosso povo votou neste governo e pouco depois de ganhar as eleições lança todas estas liminares contra os índios".

Sandra, também da nova geração da Mata Medonha que vem trabalhando no resgate cultural, chora por momentos, e por outros grita a sua indignação aos policias e funcionários da FUNAI.   "Estas são terras que herdamos de nossos ancestrais, que foram massacrados".

Depois improvisa, com um celular, uma entrevista com o ancião seu Etelvino, sentado sem ver seus poucos pertences serem tirados da sua casinha.

- O senhor sabe onde vai?

- Nao sei, Deus que sabe.

  E a jovem diz:  "hoje estamos sendo expulsos de nossa casa por pessoas que não precisam nem merecem".


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

INDÍGENAS DA ALDEIA MATA MEDONHA LIBERAM BICHO PREGUIÇA NA FLORESTA

                                                    Por Patricia Grinberg
                                                          Foto Toni Ormundo





Aldeia Pataxó Mata Medonha
, Santa Cruz Cabrália, Bahia.-

     Um domingo de sol, crianças iluminando a tarde, jovens indígenas de duas aldeias da Bahia resgatando saberes e fazeres quase aniquilados durante 500 anos, e um bicho preguiça liberado na floresta, achando seu caminho aéreo entre as arvores remanescentes da Mata Atlântica, um ecossistema também em perigo de extinção.

  Foi o dia em que os índios pataxó da  Mata Medonha liberaram um bicho preguiça  que dias atrás haviam achado na estradinha de chão de acesso a aldeia, fragilizado e com sinais de fraqueza.

  Era o momento ideal, pois jovens desta aldeia, localizada no município de Santa Cruz Cabrália, e da aldeia Caramuru, de Pau Brasil,  passaram este fim de semana juntos, em um encontro de intercambio, compartindo brincadeiras, danças de toré, conversas arredor da fogueira e reflexões sobre "a massacre da conquista que destruiu nossos povos mas não conseguiu  acabar com nossa cultura, que estamos resgatando juntos".
   
 Os jovens participam do projeto AVANTE JUVENTUDE PATAXÓ, de Formação Social e Qualificação Profissional de Jovens Indígenas da Etnia Pataxó do Território de Identidade do Extremo Sul da Bahia, executado pelo Instituto Mãe Terra, com patrocínio da Petrobras.

Depois do almoço compartilhado na Escola da Aldeia, se improvisou uma alegre caravana que levou o bicho preguiça até as terras da Retomada, longe das casas, e junto ao córrego do Ouro, braço do Rio Santo Antonio. Sem muitas cerimonias nem formalidades, o irmão do reino animal foi colocado delicadamente numa árvore, e deixado a vontade onde deve estar.


 Entre as espécies ameaçadas de extinção estão o bicho preguiça comum e o de coleira, que já estão desaparecendo de diversas regiões onde eram abundantes, como no nordeste brasileiro. No extremo sul da Bahia a Mata Atlântica já foi totalmente devastada.. O desmatamento, por causa de empreendimentos imobiliários e plantações de eucalipto para fazer papel, é a principal causa do desaparecimento das preguiças, que passam quase todo o tempo de vida em cima das árvores, onde se alimentam de 22 espécies diferentes de vegetação. Elas tentam fugir para áreas próximas às cidades, tornando-se uma presa fácil para caçadores ilegais. 

Da gestação, que dura em torno de 11 meses, só nasce 1 filhote, do qual apenas a fêmea cuida. O filhote é carregado por sua mãe nas costas, durante os seus 9 primeiros meses de vida.Os predadores do preguiça, a onça pintada e a harpia, também estão em perigo de extinção, então ficou para o ser humano o triste titulo de principal predador. 

 A bióloga Vera Lucia de Oliveira, quem desde 1996 trabalha na recuperação e reinserção na mata de bichos preguiça na Reserva Zoobotânica da CEPLAC de Itabuna, adverte sobre isso.

Em entrevista realizada por esta repórter anos atrás, Vera Lucia advertiu que a expansão da monocultura de eucaliptos é uma das principais causas da extinção de estos animais, especialmente do bicho preguiça de coleira, mais ameaçado ainda por ser endêmico da Mata Atlântica do sul da Bahia, especialmente.  


Isto acontece, explica a bióloga, não somente pela destruição da arvores que dão habitat e alimento aos preguiças, senão também pelo enfraquecimento da especie por motivos genéticos.  "Eles- explicou- não atravessam as plantações de eucaliptos, portanto permanecem acuados nas ilhas de mata e acabam acasalando-se entre consanguíneos,  fato que vá acabando com a especie". A falta de variabilidade genética torna estereis os espécimens.

As recomendações de Vera para ajudar a deter a extinção destes seres mágicos são simples

- Não cace e não deixe que outras pessoas cacem. As ilhas de matas que sobraram não comportam mais populações de animais que resistam á caça predatória;
- Não compre animais silvestres. Mesmo que você sinta pena, a compra estimulará a captura para o comércio ilegal. Não deixe que seus parentes ou amigos comprem animais silvestres;
- Não destrua as florestas – são habitats dos animais e também sua vida depende delas;
- Preserve a fauna e flora;
- Respeite toda forma de vida, pois na diversidade biológica está a riqueza ambiental futura;
- Respeite a natureza, sinta-se parte dela e não seu dono.