terça-feira, 24 de agosto de 2010

AGROTOXICOS: PROBLEMAS PRENATAIS E EM CRIANÇAS


Exposição pré-natal a pesticidas organofosforados é associada ao deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
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[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] As crianças que foram expostas a pesticidas organofosforados, enquanto ainda no ventre de suas mães, são mais propensas a desenvolver distúrbios de atenção anos mais tarde. É o que conclui um novo estudo [Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children] realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley.
As novas descobertas, que serão publicadas na revista Environmental Health Perspectives (EHP), é dos primeiros a analisar a influência da exposição pré-natal aos organofosforados e seus efeitos posteriores no desenvolvimento de problemas de atenção. Os pesquisadores descobriram que os níveis pré-natais de metabólitos organofosforados foram significativamente ligados a problemas de atenção na idade de 5anos, com efeitos aparentemente mais fortes entre os meninos.
No início deste ano, um outro estudo por pesquisadores da Universidade de Harvard também associava a exposição a pesticidas organofosforados em crianças em idade escolar com maiores taxas de sintomas de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
“Estes estudos fornecem um crescente corpo de evidências de que a exposição a pesticidas organofosforados podem afetar o neurodesenvolvimento em humanos, especialmente entre as crianças”, disse a pesquisadora que liderou estudo, Brenda Eskenazi, da UC Berkeley, professora de epidemiologia e de saúde materna e infantil. “Estávamos especialmente interessados em exposição pré-natal, porque esse é o período em que o sistema nervoso do bebê está se desenvolvendo mais.”
O estudo acompanhou mais de 300 crianças que participam no Centro de Avaliação de Saúde de Mães e Crianças de Salinas (CHAMACOS), um estudo longitudinal conduzido por Eskenazi, que analisa riscos ambientais e de saúde reprodutiva. As mães e as crianças, no estudo são mexicano-americanos que vivem em uma comunidade agrícola, e, provavelmente por isto, a sua exposição a pesticidas é maior e mais crônico, em média, do que a da população em geral dos EUA.
No entanto, os pesquisadores salientaram que os pesticidas que examinaram são amplamente utilizados e que os resultados deste estudo são uma bandeira vermelha que justifica medidas cautelares.
“É sabido que o alimento é uma fonte significativa de exposição a pesticidas na população em geral”, disse Eskenazi. “Eu recomendo lavar bem as frutas e legumes antes de comê-los, especialmente se você está grávida”.
Pesticidas organofosforados agem interrompendo neurotransmissores, principalmente acetilcolina, que desempenha um papel importante em manter a atenção e a memória de curto prazo.
“Dado que estes compostos são projetados para atacar o sistema nervoso dos organismos, não há razão para ser cauteloso, especialmente em situações onde a exposição pode coincidir com os períodos críticos do desenvolvimento fetal e infantil”, disse outra pesquisadora, Amy Marks.
Muitos destes mesmos pesquisadores da UC Berkeley também estão pesquisando que as crianças com determinadas características genéticas podem ter maior risco, uma descoberta que também será sendo publicada EHP.
Esse estudo descobriu que, aos dois anos de idade, com baixos níveis de paraoxonase 1 (PON1), uma enzima que quebra os metabólitos tóxicos de pesticidas organofosforados, teve mais atrasos do desenvolvimento neurológico do que aqueles com níveis mais elevados da enzima. Os autores sugerem que pessoas com determinados genótipos PON1 poderiam ser particularmente vulneráveis à exposição a pesticidas.
No estudo sobre problemas de atenção, os investigadores testaram seis metabolitos de pesticidas organofosforados nas mães duas vezes durante a gravidez e nas crianças várias vezes após o nascimento. Juntos, os metabólitos representam os produtos de cerca de 80 por cento de todos os pesticidas organofosforados usados no vale Salinas.
Os pesquisadores então avaliaram as crianças na idade de 3,5 e 5 anos para os sintomas de distúrbios de atenção e TDAH utilizando os relatórios do comportamento materno infantil, o desempenho em testes padronizados de computador e as avaliações do comportamento. Eles controlavam outros fatores como peso, exposição ao chumbo e amamentação.
Cada aumento de dez vezes em metabólitos de pesticidas na fase pré-natal foi associado a ter cinco vezes mais chances de caracterização nos testes computadorizados aos 5 anos de idade, sugerindo uma maior probabilidade de uma criança ser diagnosticada com TDAH clínica. O efeito parece ser mais forte em meninos do que para as meninas.
Os resultados adicionam à lista de contaminantes químicos que têm sido associados ao TDAH nos últimos anos. Além dos pesticidas, os estudos encontraram associações com a exposição ao chumbo e ftalatos, que são comumente usados em brinquedos e plásticos.
“Altos níveis de sintomas de TDAH aos 5 anos de idade são fatores importantes para problemas de aprendizagem e rendimento escolar, lesões acidentais em casa e na vizinhança, uma série potencial de problemas no relacionamento com os colegas e outras capacidades sociais essenciais”, disse o professor de psicologia, Stephen Hinshaw, da UC Berkeley, um dos maiores especialistas dos EUAsobre o TDAH e que não fazia parte deste estudo. “Encontrar fatores de risco evitáveis é, portanto, um importante problema de saúde pública”.
O estudo [ Marks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, et al. 2010 Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect doi:10.1289/ehp.1002056] está disponível para acesso integral, no formato PDF. Para acessar o artigo clique aqui.
Para maiores informações, transcrevemos, abaixo, o abstract:
Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American ChildrenMarks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, et al. 2010 Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect doi:10.1289/ehp.1002056
Background: In utero exposure to organophosphate (OP) pesticides, well-known neurotoxicants, has been associated with neurobehavioral deficits in children.
Objectives: We investigated whether OP exposure, as measured by maternal urinary dialkyl phosphate (DAP) metabolites during pregnancy, was associated with attention-related outcomes among Mexican-American children living in the agricultural Salinas Valley and followed to ages 3½ (n=331) and 5 (n=323) years.
Methods: Mothers completed the Child Behavior Checklist (CBCL). We administered the NEPSY-II visual attention subtest to children at 3½ years and the Conners’ Kiddie Continuous Performance Test (K-CPT) at 5 years. The K-CPT yielded a standardized attention deficit/hyperactivity disorder (ADHD) Confidence Index score. Psychometricians scored 5-year olds’ behavior during testing using the Hillside Behavior Rating Scale (HBRS).
Results: Prenatal DAPs were non-significantly associated with maternal report of attention problems and ADHD at age 3½, but were significantly related at age 5 (Attention: β = 0.7; 95% confidence interval (CI), 0.2, 1.2; ADHD:β =1.3; 95% CI, 0.4, 2.1). DAPs were associated with the K-CPT ADHD Confidence Index (OR=5.1; 95% CI, 1.7, 15.7) and non-significantly associated with HBRS ADHD (β = 0.4, 95% CI, -0.04, 0.9). DAPs were also associated with a composite ADHD indicator of the various measures (OR=3.6, 95% CI, 1.2, 11.0). Some outcomes exhibited interaction by sex with associations found only among boys.
Conclusions: In utero DAPs were associated adversely with attention in young children as assessed by maternal report, psychometrician observation, and direct assessment. These associations were more robust at 5 than 3½ years and stronger in boys.
Citation: Marks AR, Harley K, Bradman A, Kogut K, Barr DB, Johnson C, et al. 2010. Organophosphate Pesticide Exposure and Attention in Young Mexican-American Children. Environ Health Perspect :-. doi:10.1289/ehp.1002056
Received: 12 February 2010; Accepted: 29 March 2010; Online: 19 August 2010
Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 24/08/2010, com informações de Sarah Yang, University of California – Berkeley

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2010/08/24/exposicao-pre-natal-a-pesticidas-organofosforados-e-associada-ao-deficit-de-atencao-e-hiperatividade-tdah/

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CIENTISTAS BRASILEIROS PROPOEM CODIGO DE BIODIVERSIDADE NO LUGAR DO FLORESTAL

Materia publicada no site da Academia Brasileira de Ciencias (ver texto integro no link embaixo)

Aziz Ab'Saber sugere código da biodiversidade no lugar do florestal


30/07/2010

O geógrafo e Acadêmico Aziz Ab'Saber, um dos homenageados na 62ª Reunião Anual da SBPC*, defendeu em uma conferência, realizada no dia 27/7, a criação de um código da biodiversidade no lugar do atual Código Florestal, que está em discussão no Congresso. Para o geógrafo de 88 anos e presidente emérito da SBPC, é preciso ampliar a proteção dos biomas e expandir a noção de área de preservação para além das florestas. "Precisamos de um código da biodiversidade e não apenas florestal. Se não, como fica a caatinga, por exemplo?", questionou.

Ab' Saber criticou a proposta de revisão da norma, que protege do desmatamento áreas de floresta. Para ele, o texto defendido pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) beneficia apenas "um grupo de riquinhos" que não segue os preceitos da bioética. "Os ricos do mundo não querem saber do ambiente, querem é ganhar dinheiro a seu favor com a tecnologia. Temos que ter mais cuidado com os fatos da história da vida. Que os ricos fiquem com riqueza adquirida, mas que não se metam na destruição da vida da Terra", afirmou.

O Acadêmico conclamou os cientistas brasileiros a se manifestarem contra a reforma e alertou para os riscos de um novo código florestal, mais permissivo, ser aprovado. "Não dá para comparar o que eles querem que aconteça com a Amazônia com o que já aconteceu no passado. No passado havia muita ignorância sobre todos esses fatos [relativos às consequências do desequilíbrio ambiental], mas hoje temos uma consciência ambiental, uma consciência bioética. Temos que fazer planejamento, pois o nosso tempo é o tempo da ciência e do conhecimento", discursou.

Em artigo publicado na página da SBPC, o geógrafo aponta seus principais argumentos contra alterações no código florestal. Nele, há críticas sobre a estadualização da legislação ambiental, a possibilidade de recuperação de áreas degradadas com vegetação homogênea e a tentativa de redução da área obrigatória de preservação.

"[Os reformuladores] poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em espaços de quarteirões implantados para venda de lotes de cinquenta a cem hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconsequente, decorridos poucos anos', escreve.

(Marcelo Medeiros para o jornal da SBPC, 29/7/2010; foto de Lucia B. Torres)

*Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências

http://www.abc.org.br/IMG/doc/doc-181.doc