Foto Toni Ormundo
Aldeia Pataxó Mata Medonha
, Santa Cruz Cabrália, Bahia.-
Um domingo de sol, crianças iluminando a tarde, jovens indígenas de duas aldeias da Bahia resgatando saberes e fazeres quase aniquilados durante 500 anos, e um bicho preguiça liberado na floresta, achando seu caminho aéreo entre as arvores remanescentes da Mata Atlântica, um ecossistema também em perigo de extinção.
Foi o dia em que os índios pataxó da Mata Medonha liberaram um bicho preguiça que dias atrás haviam achado na estradinha de chão de acesso a aldeia, fragilizado e com sinais de fraqueza.
Era o momento ideal, pois jovens desta aldeia, localizada no município de Santa Cruz Cabrália, e da aldeia Caramuru, de Pau Brasil, passaram este fim de semana juntos, em um encontro de intercambio, compartindo brincadeiras, danças de toré, conversas arredor da fogueira e reflexões sobre "a massacre da conquista que destruiu nossos povos mas não conseguiu acabar com nossa cultura, que estamos resgatando juntos".
Os jovens participam do projeto AVANTE JUVENTUDE PATAXÓ, de Formação Social e Qualificação Profissional de Jovens Indígenas da Etnia Pataxó do Território de Identidade do Extremo Sul da Bahia, executado pelo Instituto Mãe Terra, com patrocínio da Petrobras.
Depois do almoço compartilhado na Escola da Aldeia, se improvisou uma alegre caravana que levou o bicho preguiça até as terras da Retomada, longe das casas, e junto ao córrego do Ouro, braço do Rio Santo Antonio. Sem muitas cerimonias nem formalidades, o irmão do reino animal foi colocado delicadamente numa árvore, e deixado a vontade onde deve estar.
Entre as espécies ameaçadas de extinção estão o bicho preguiça comum e o de coleira, que já estão desaparecendo de diversas regiões onde eram abundantes, como no nordeste brasileiro. No extremo sul da Bahia a Mata Atlântica já foi totalmente devastada.. O desmatamento, por causa de empreendimentos imobiliários e plantações de eucalipto para fazer papel, é a principal causa do desaparecimento das preguiças, que passam quase todo o tempo de vida em cima das árvores, onde se alimentam de 22 espécies diferentes de vegetação. Elas tentam fugir para áreas próximas às cidades, tornando-se uma presa fácil para caçadores ilegais.
Da gestação, que dura em torno de 11 meses, só nasce 1 filhote, do qual apenas a fêmea cuida. O filhote é carregado por sua mãe nas costas, durante os seus 9 primeiros meses de vida.Os predadores do preguiça, a onça pintada e a harpia, também estão em perigo de extinção, então ficou para o ser humano o triste titulo de principal predador.
A bióloga Vera Lucia de Oliveira, quem desde 1996 trabalha na recuperação e reinserção na mata de bichos preguiça na Reserva Zoobotânica da CEPLAC de Itabuna, adverte sobre isso.
Em entrevista realizada por esta repórter anos atrás, Vera Lucia advertiu que a expansão da monocultura de eucaliptos é uma das principais causas da extinção de estos animais, especialmente do bicho preguiça de coleira, mais ameaçado ainda por ser endêmico da Mata Atlântica do sul da Bahia, especialmente.
Isto acontece, explica a bióloga, não somente pela destruição da arvores que dão habitat e alimento aos preguiças, senão também pelo enfraquecimento da especie por motivos genéticos. "Eles- explicou- não atravessam as plantações de eucaliptos, portanto permanecem acuados nas ilhas de mata e acabam acasalando-se entre consanguíneos, fato que vá acabando com a especie". A falta de variabilidade genética torna estereis os espécimens.
As recomendações de Vera para ajudar a deter a extinção destes seres mágicos são simples
- Não compre animais silvestres. Mesmo que você sinta pena, a compra estimulará a captura para o comércio ilegal. Não deixe que seus parentes ou amigos comprem animais silvestres;
- Não destrua as florestas – são habitats dos animais e também sua vida depende delas;
- Preserve a fauna e flora;
- Respeite toda forma de vida, pois na diversidade biológica está a riqueza ambiental futura;
- Respeite a natureza, sinta-se parte dela e não seu dono.